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Empadas e realidade virtual: a história de Pixel Rift e da brasileira que foi fazer jogos na Inglaterra



Há alguns meses, a desenvolvedora Ana Ribeiro teve um sonho inusitado. Em seu quarto, ela jogava algum game na TV e o ambiente do lugar mudava conforme os gráficos do jogo também se transformava.

Foi assim que nasceu Pixel Rift, o game que Ana está desenvolvendo para Oculus Rift e que já está chamando a atenção, principalmente por realmente parecer um game e não uma tech demo que normalmente é vista para o aparelho.

"Sempre tive vontade de fazer um jogo pro Oculus Rift desde a primeira vez que testei e comprei o kit", fala a desenvolvedora em entrevista ao Kotaku. "Mas eu não queria fazer um jogo só por ser em realidade virtual, eu queria fazer um jogo que tivesse uma razão (pra ser feito)".



O desenvolvimento de Pixel Rift é apenas mais uma das interessantes histórias dessa ex-funcionária pública que saiu de São Luiz, no Maranhão, e foi para a Inglaterra com o objetivo de desenvolver games. Uma história que é recheada por empadas, Counter Strike e uma grande paixão por jogos.

De CS para as empadas…

Antes de se mudar para outro país, Ana nunca tinha se envolvido com desenvolvimento de jogos ou programação. Videogames, no entanto, sempre fizeram parte da vida dela.

Ana diz que joga "desde que se entende por gente" e o primeiro console dela e dos irmãos foi um Odyssey. Desde então nunca mais parou de jogar.

Uma prova da paixão dela por jogos é que Ana chegou a participar, no começo dos anos 2000, de um time profissional de Counter Strike formado só por garotas. "O nome era Myth.Ladies e a gente era patrocinado por uma Lan House. Isso durou uns três anos", revela.

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Ana (ao centro, abaixada) na época em que jogava CS profissionalmente


Ana não chegou a ganhar nenhuma competição nessa época. Ela diz que isso é tanto por causa das poucas competições que tinham no Maranhão na época, quanto pelo fato das Myth.Ladies serem um time mediano de Counter-Strike, além de serem um dos poucos times femininos da região.

Deixando os mapas de De_Dust de lado, ela acabou fazendo faculdade de psicologia e, pouco antes de se mudar para a Inglaterra, era funcionária pública concursada. Além disso, ela tinha um pequeno negócio de venda de empadas, algo que começou por acaso e logo se tonou a sua principal fonte de renda, o que lhe rendia mais de R$ 3 mil mensalmente. "Eu tinha comprado meu carro só com a venda de empada, eu vendia quase 4 mil empadas por mês", conta.

…das empadas para a criação de jogos

A reviravolta em sua vida veio quando Ana estava se sentindo frustrada com o trabalho burocrático de servidora pública e percebeu que não queria fazer empadas para sempre. "Pela primeira vez na minha vida eu parei pra pensar o que eu gostaria de fazer e não o que minha família queria ou que pudesse dar mais dinheiro", relembra.

Foi então que ela decidiu fazer aquilo que sempre gostou: games. Já a mudança para outro continente veio do desejo que Ana tinha de morar na Europa.

Há mais de quatro anos na Inglaterra, Ana já fez cursos de programação e criou alguns pequenos jogos, mas para fins acadêmicos. Atualmente, ela está finalizando o mestrado de Game Design e Desenvolvimento de Jogos na National Film and Television School. O Pixel Rift é sua primeira tentativa de um jogo comercial.

Pixel Rift: um jogo dentro do jogo

Pixel Rift é o trabalho final do curso de mestrado de Ana e tem como principal característica o meta game. Na simulação, o jogador controla uma menina, Nicola, que por sua vez está jogando o game Pixel Rift dentro dessa realidade.

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O jogador pode controlar tanto alguns movimentos de Nicola quanto jogar o Pixel Rift, que é um plataforma 2D bem ao estilo dos clássicos de Nintendinho, como Mario e Mega Man. O objetivo em Pixel Rift (o simulador) é jogar Pixel Rift (o jogo) enquanto passa por algumas dificuldades criadas no ambiente da simulação.

Ana dá o exemplo que está na demo do jogo. Nicola está na sala de aula e joga Pixel Rift em um Game Boy (ou Game Girl, como está no simulador), mas precisa fazer isso escondida da professora, que chama sua atenção se a pegar no flagra e, se isso acontecer mais de uma vez, é game over. "Queria fazer voltar esses momentos em que você queria jogar videogame e não podia. Queria brincar com esses momentos da vida da gente, que tenho certeza que muito jogador se identifica", fala a desenvolvedora.



Ana também explica que, na versão final do simulador, cada fase vai representar uma geração diferente de consoles, começando com o Odyssey e terminando no Nintendo 64, mas o game sempre será o Pixel Rift, só que em versões diferente, claro. "O jogo (Pixel Rift) vai modificando conforme o ano em que se joga e cada nível vai ter alguém no caminho impedindo Nicola de jogar, em um vai ser o namorado, no outro vai ser a mãe", esclarece Ana.

Por mostrar a vida dessa garota e sua relação com jogos, Pixel Rift também representa muito do que a própria Ana vivenciou enquanto cresceu e via o desenvolvimento dos videogames. Pixel Rift chega a ser quase autobiográfico para a autora. "Eu quis fazer um jogo que mostrasse minha experiência de alguém que joga desde os anos 80 e vivenciou toda essa evolução da indústria de jogos", diz.

Mesmo que tenha esse aspecto biográfico, Ana diz que não chegou a ter um jogo como Pixel Rift na infância, já que jogava de tudo um pouco. Ela cita Frogger, Golden Axe, Streets of Rage, Mega Man e Sonic como alguns dos jogos que a marcaram. "Se fosse pra escolher um, talvez Mega Man 2 ou o primeiro Sonic", fala. Não é por coincidência que o Pixel Rift, dentro da simulação, representa, de certa forma, todos esses jogos.

Um jogo que causa emoções

O desenvolvimento de Pixel Rift iniciou há pouco mais de seis meses e está cerca de 20% concluído. A brasileira explica que está recebendo ajuda de colegas da faculdade nos complementos do jogo, como música, som e pixel art. Já o desenvolvimento principal, a parte de programação, animação e o game design estão sendo feitos completamente por ela.

Mesmo ainda em seus estágios iniciais, a demo que está disponível e que Ana está levando para eventos de games e de realidade virtual na Inglaterra já está sendo bastante elogiada. "Como essa é uma tecnologia muito nova, as pessoas que jogam ficam deslumbradas com o Oculus Rift, então fica difícil saber se elas estão assim pelo jogo ou pelo aparelho", diz a desenvolvedora. "E nesse evento eu pude ver pessoas que já experimentaram o Oculus Rift antes e já tinham visto tudo que tá aí fora (de jogo) para o aparelho e os comentários eram que esse era o melhor jogo que tinham jogado no Oculus Rift", diz, orgulhosa.

Mais do que elogios, Pixel Rift chega até a causar emoção para as pessoas mais nostálgicas. Ana diz que uma das pessoas que experimentou o game ficou visivelmente emocionada após o fim da demo. "Nunca vou esquecer isso, depois que ele jogou ele começou a elogiar bastante o jogo e os olhos deles começaram a lacrimejar, ele não chorou porque se controlou, mas disse que foi o melhor jogo da vida dele", conta a desenvolvedora.

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Com a boa recepção, Ana Ribeiro está mais motivada para concluir o jogo, que tem previsão de lançamento para o segundo semestre de 2015 e, talvez, não só para o Oculus VR. Ana diz que pretende conversar com a Sony para usar também o recente Project Morpheus da empresa.

Já para quem não tiver um kit do Oculus Rift, ela também está analisando desenvolver uma versão para PC. "Ainda não é algo certo, até porque o jogo perde muito na versão de PC, sem o aparelho".

Ela justifica ao explicar as adaptações do controle, já que no Oculus Rift, o aparelho controla a visão da personagem e o controle de Xbox 360 fica só para o jogo Pixel Rift dentro do simulador. No PC, a visão da personagem fica prejudicada.

Mesmo assim, a mesma demo disponível para o Oculus, adaptada para mouse e teclado , pode ser baixada no site do jogo.

[Atualizado] Fora isso, Ana já decidiu colocar o Pixel Rift para ser votado no greenlight do Steam caso a versão de PC realmente saia. [Atualizado]

Com o Pixel Rift, podemos ter o primeiro sucesso brasileiro nas ainda pouco exploradas terras da realidade virtual.

Fonte: Kotaku

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23 Out, 2014 - 21:55

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