Arte ou passatempo: a relevância da duração dos games
O recente lançamento de The Order: 1886 foi cercado de polêmicas, sendo que a mais forte delas foi focada na duração do jogo, de cerca de cinco horas. A importância dada a isso nos reviews do mundo inteiro me fez refletir. Será que é justo julgar um game pela sua duração? Não estou me referindo especificamente ao The Order aqui, mas um jogo que dure menos de 10 horas vale menos do que um que ultrapasse as 30?
Um pouco de história
A duração dos games em geral aumentou exponencialmente na geração do PSX / Saturn / Nintendo 64, e isso aconteceu por muitos motivos. O primeiro deles foi a popularização dos saves, que até existiam antes em alguns seletos títulos, mas nessa época se tornou algo essencial. Antes disso era mais comum o uso de passwords do que de saves, e muitos jogos relativamente longos, como o primeiro Toe Jam & Earl não tinham nem um nem outro.
A mudança para os gráficos poligonais e a mudança de mídia para discos (possibilitando maior armazenamento) também facilitaram para que os desenvolvedores criassem narrativas mais elaboradas, próximas ao cinema. Antes disso, quando um jogo queria contar uma história, ou apelava para textos ou então para algo semelhante aos quadrinhos, com figuras estáticas e diálogos escritos. Assim, naturalmente um jogo com uma história mais complexa ficava mais longo do que um com o tradicional "salve a namorada" que predominava até então e que dispensava totalmente as cutscenes.
Eu vivi a época, embora ainda estivesse naquele ponto confuso entre a infância e a adolescência e não acho que um aumento de duração dos games era algo especificamente solicitado pelos jogadores da época. Não me lembro de ter lido nenhum review ou artigo nas revistas de games que criticasse um jogo por ser curto demais, embora me lembre de alguns que alertavam quando o jogo era longo.
Nessa era de outrora, nós jogávamos os jogos muitas vezes, independente de termos terminado ou não. Quem viveu a época provavelmente zerou dezenas, senão centenas de vezes jogos como Super Mario, Golden Axe ou Streets of Rage. Era inclusive comum alugar um jogo, terminá-lo durante o final de semana e ainda assim querer comprá-lo.
Com o aumento da duração, a atitude dos jogadores acabou se modificando também. Hoje é comum as pessoas jogarem até o fim apenas uma vez e venderem ou trocarem seus jogos. Claro, isso acontece não apenas por causa da duração, mas também porque hoje os gamers são prioritariamente adultos e com isso não têm tanto tempo para a diversão eletrônica quanto na nossa doce infância.
Particularmente, o primeiro jogo que realmente me incomodou por ser curto demais foi Sunset Riders, em sua versão do Mega Drive. Eu conheci essa versão antes de jogar o arcade, e muito antes da versão de Super Nes sequer ser lançada. Eu simplesmente adorei o jogo, mas ele durava cerca de 10 minutos, o que era muito pouco, mesmo para a época.
Depois conheci o arcade, e vi que ele tinha um monte de fases que não existiam na versão caseira, e a que saiu para Super Nes, cerca de um ano depois da de Mega Drive, era mais semelhante à dos fliperamas e consideravelmente mais longa, resolvendo o principal problema do jogo que eu tinha em casa. Sunset Riders, no entanto, foi um caso à parte para a época, pois a duração dos games em geral não era uma questão.
Nova era
Fast-forward muitos anos e hoje eu mesmo já escrevi reviews criticando alguns jogos por serem curtos demais. Cito até um exemplo de uma série que não acompanho justamente por causa disso: Call of Duty.
A série Call of Duty é focada no multiplayer competitivo o que, admito, não me apetece muito. Eu gosto mesmo de single player ou de cooperativo. E o single player de COD costuma ser nada menos que excelente. Todas as campanhas que joguei eu gostei muito, mas sempre terminavam com aquele gosto de quero mais. Algumas delas eu terminei em uma única tarde.
Para quem joga o multiplayer, que é o público-alvo da série, isso não é um problema, pois a campanha é basicamente um tutorial para o mata-mata online. Mas como eu não costumo jogar online, ou pelo menos não muito, sinto que a série em geral não vale a compra para mim.
Aí entramos na discussão proposta por este artigo. Em um review gringo que li do DLC Left Behind, do The Last of Us, um comentário me chamou a atenção por dizer que ele custava 15 dólares, mas durava apenas duas horas. "Não valia a pena", concluía o comentarista. Outro, no entanto, respondeu dizendo algo como "o ingresso para o cinema também custa 15 dólares e dura duas horas. Você também acha que não vale a pena?".
A duração em outras mídias
É um bom ponto. Eu resenho muitos filmes para o Delfos e nunca levei em conta a duração para atribuir qualidade. "Tal filme dura apenas 80 minutos, não vale a pena" é algo que eu nunca falaria em uma crítica de cinema. Mas já falei coisas semelhantes em reviews de games.
No cinema, quando levo em conta a duração é de forma totalmente diferente. Já assisti a filmes de 90 minutos que pareciam se arrastar durante boa parte de sua duração, assim como já assisti a outros com mais de três horas que poderiam ser melhor elaborados e se beneficiariam de alguns minutos a mais.
Uma vez saí do cinema com alguém que comentou que o filme era longo demais, ao que respondi, "ora, um filme tem que durar o que a história exige que ele dure, nem mais nem menos".
Inclusive, alguns dos meus favoritos de todos os tempo, como Corra que a Polícia Vem Aí ou Monty Python em Busca do Cálice Sagrado são bem curtos, mal atingindo a marca dos 90 minutos.
Esta é a mesma atitude que tenho para livros e quadrinhos. A própria história determina a sua duração, e isso que estabelece se algo dura mais ou menos do que deveria durar. Mesmo nas artes plásticas isso acontece. Ninguém julga um quadro por quão grande ou quão pequeno ele é. Por um lado, penso que deveria ter esta mesma atitude para os videogames.
No entanto, videogame não é uma mídia cujo objetivo é simplesmente contar uma história. No cinema ou na literatura, você paga, na maior parte das vezes, para conhecer uma história. Nos games, você paga para jogar. E se um jogo não te deixa jogar, como acontece com o supracitado The Order, as pessoas ficam frustradas.
Na música
Na música, por outro lado, eu sempre levei em conta a duração dos álbuns e dos shows. Particularmente, sempre achei maior legal quando comprava um disco novo e o player me mostrava que ele durava mais de 70 minutos. Outras pessoas, no entanto, gostam quando um álbum bate na casa dos 40 minutos, pois preferem uma obra mais concisa, músicas mais curtas, ou o que seja.
E apesar dessa minha preferência por discos longos, novamente, dois dos meus álbuns preferidos, o primeiro Keeper of the Seven Keys, do Helloween, e Rising, do Rainbow, são bem curtos. O primeiro tem 37 minutos, enquanto o segundo tem apenas 33. No entanto, são dois dos álbuns que eu mais escutei na vida, mais do que muitos outros mais longos. Gosto de todas as músicas de cada um deles e tenho minhas dúvidas se acrescentar outras faixas os deixaria de fato melhores.
E aí chegamos aos shows. Este é um aspecto que de fato minha atitude é "quanto mais longo melhor". Mais tempo de show significa mais músicas e maior possibilidade de a banda tocar suas composições preferidas. Admito, quando assisto a um show que dura pouco mais de uma hora, como é comum entre as bandas finlandesas, sempre acabo saindo decepcionado. Por outro lado, shows longos, como os de Paul McCartney ou Rush são não apenas mais satisfatórios, mas também muito divertidos.
Com certeza existem pessoas com opinião contrária. Mais vale um show de uma hora com apenas músicas boas do que um de duas horas onde só uma hora de música é realmente legal. E este argumento também é válido.
De volta aos games
Talvez, no entanto, os games estejam mais próximos de um show do que de um filme na forma que o público leva em conta a relação custo/benefício. Você paga pelo entretenimento, e quanto mais tempo ele trouxer de entretenimento, mais valeu o investimento.
Ainda assim, alguns dos meus jogos preferidos, como Uncharted, Gears of War, God of War ou Vanquish são bem curtos. Eu gostaria que eles fossem mais longos? Sim. Mas gostaria que, para eles serem mais longos, fossem recheados de coisas como colecionáveis, sidequests ou outros gimmicks preguiçosos usados para aumentar a duração de um jogo? Não, de forma alguma.
Eu queria que eles tivessem mais do que realmente os torna especial, não coisas que eu faço em outros jogos "por obrigação". E talvez justamente a ausência dessas outras coisas, o foco naquilo que eles têm de melhor, seja o motivo pelo qual gosto tanto deles. Mas ainda assim, continuo com aquele desejo de que eles fossem mais longos, por mais que racionalmente consiga justificar que é até melhor que eles sejam curtos.
Pode-se argumentar também que tem muito a ver com o tipo do lançamento. The Order: 1886 é um jogo em disco que saiu lá fora custando 60 dólares. Journey, que também é bem curto, saiu custando apenas 15 obamas. A relação custo X tempo de diversão é claramente melhor no Journey.
Assim, provavelmente depende de como você encara a coisa. Como um passatempo, a duração dos games é importante, e desejamos que eles sejam longos. Como arte ou forma de comunicação, não é justo julgar um game por isso.
Então qual é a conclusão? Ambos são argumentos válidos, caro leitor. Como a maior parte dos meus artigos, este visa iniciar uma discussão e fazer perguntas, não dar respostas definitivas. Até porque sempre vão existir opiniões diferentes. E eu quero ler as suas opiniões sobre o assunto nos comentários. Quem sabe você não me ajuda a chegar a uma conclusão?
maickbattousai 22 Mar, 2015 12:58 0
davimt 20 Mar, 2015 23:17 0
(Cuidado ! spoiler de skyrim)
Ha cara, achei sim, pra mim os jogos ruins são aqueles que começo jogar e não consigo terminar. Odeio começar um jogo e ir levando sem o menor sentido, acabo não aguentando, foi assim com the evil within, skyrim, GTA 4, etc
Tipo, pra mim o jogo tem que me chamar a atenção, e manter isso ate o fim e não simplesmente ***** com tudo como foi no skyrim após vc matar o ultimo dragão, pra mim o jogo acabou ali, simplesmente perdeu o sentido de continuar jogando.
Então no fim, pra mim jogo curto ou logo que zero é o bom, com tantos jogos hoje acho que se vc consegue zerar um jogo vc não devia reclamar que ele é ruim.
LAZERCROMO 20 Mar, 2015 22:15 0
*Order
Ser um game curto é o de menos, mas se achou que valeu a pena...
Rex23233232 20 Mar, 2015 21:43 0
davimt 20 Mar, 2015 20:43 -2
Bom, se for, acho que foi uma jogada muito idiota pq não consegui ou tive animo de zerar ate hoje justamente pq joguei ate o cabeça de cofre e ate ali o jogo nao fazia sentido algum, eu jogava sem ter a mínima do pq eu estava jogondo, sem contar a confusão toda e os bugs, este jogo faz silent hill ter bem mais sentido.
Conclusão, tenho quase certeza que nunca vou comprar DLC algum, maas, vamos ver neh, gastar dinheiro atoa nao é fácil. rsrs
leopositivo 20 Mar, 2015 19:53 0
The evil within foi feito assim de propósito, para entendê lo terá que comprar as dlcs, uma já saiu, a outra sairá mas pra frente. Só depois que jogar essas dlcs que a hiatória comessa a fazer sentido.
davimt 20 Mar, 2015 18:42 -1
deividi21 20 Mar, 2015 18:26 2
german85 20 Mar, 2015 17:55 0
leopositivo 20 Mar, 2015 17:49 1
gustavomoraes 20 Mar, 2015 17:39 1
ironhidejr 20 Mar, 2015 17:30 1