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'Não há nada mais hardcore que um jogo casual', diz presidente da Abragames

"Os jogos que estão no BIG Festival fazem a arte andar para a frente", diz Alê McHaddo. Presidente da Abragames (Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais), McHaddo é um dos principais responsáveis pelo crescimento do Brazil’s Independent Games Festival (o nome completo do BIG) em sua terceira edição, que vai até domingo (5) em São Paulo, e acontece nos dias 6 e 7 de julho no Rio de Janeiro.

Criado em 2013, o evento tem duas metas bastante interessantes para o mercado produtor de games do país: colocar os desenvolvedores locais em contato com publishers e empresas estrangeiras, e mostrar ao público o que há de mais inovador sendo feito em matéria de gameplay, narrativa, arte e som de "joguinhos eletrônicos".

A terceira edição tem sabor especial para a Abragames: além de ver a primeira indicação de um jogo brasileiro para a categoria de Melhor Jogo com "Treeker: Os Óculos Perdidos", a entidade comemora 10 anos em 2015. "As coisas têm mudado e melhorado bastante, mas ainda há muito para se fazer. Em 2014, games movimentaram R$ 1,6 bilhão no Brasil, mas a maior parte disso são games internacionais. Queremos defender o desenvolvimento local", diz o executivo, que é um pioneiro do mercado de games brasileiro. Nos anos 1990, McHaddo (ainda como Alexandre Machado) produziu Gustavinho em O Enigma da Esfinge, game para PC que tinha a participação de Marisa Orth.

O IGN Brasil conversou com McHaddo durante o BIG Festival. Na entrevista a seguir, o presidente da Abragames faz um balanço do evento e explica o porquê da premiação ser aberta para jogos estrangeiros. "O Festival de Cannes de cinema não premia sempre um filme francês -- ele premia o melhor do mundo. O mesmo acontece com o BIG Festival: com a premiação, conseguimos trazer jogos bacanas para perto do desenvolvedor e do público brasileiro", diz.

Além disso, o executivo também fala sobre o grande primeiro semestre da produção nacional com games como Chroma Squad e Krinkle Krusher, e faz uma provocação: "Não há nada mais hardcore que um jogo casual. Afinal, o que é mais hardcore? Um game que você joga no sofá e só de vez em quando tem tempo para ele, ou um jogo que te acompanha o dia inteiro, no ônibus, no banheiro e na fila do dentista?".

Em 2015, o BIG Festival chega à sua terceira edição. Qual é a avaliação que você faz desse momento?

O BIG está em seu terceiro ano, e fico até surpreso com o crescimento da feira em tão pouco tempo. No Brasil, existem eventos de games que mostram um tipo de jogo que a gente não produz ainda e são eventos voltados para o consumidor final. Faltava um evento que tivesse um lado de negócios bacana e um festival que mostrasse novas tendências na linguagem do videogame. O BIG é isso: um ponto de contato entre publishers internacionais e os desenvolvedores brasileiros, como a gente vê na Game Developer Conference (GDC). Além dos fóruns, onde há discussões para os produtores locais, há uma área de negócios e a parte do festival, que mostra jogos que se destacam em narrativa, arte, gameplay e som, olhando para o jogo do ponto de vista estético. Para nós, não tem discussão: game é arte, e os games que nós mostramos aqui fazem a arte andar para frente.

O Brasil está no nome do festival, mas em três anos de evento, é só a primeira vez que um jogo brasileiro é indicado ao prêmio de Melhor Jogo. Por que a decisão de abrir a premiação para games estrangeiros se o festival quer incentivar a produção nacional?

O Festival de Cannes de cinema não premia sempre um filme francês -- ele premia o melhor do mundo. O mesmo acontece com o BIG Festival: com a premiação, conseguimos trazer jogos bacanas para perto do desenvolvedor e do público brasileiro. Hoje, com a internet, você até consegue jogar qualquer game em qualquer lugar do mundo, mas ao trazer os estrangeiros para cá, você traz também as histórias deles -- e faz com que eles saibam como é o game brasileiro. Em 2015, tivemos mais de 500 inscrições ao redor do mundo, e estamos nos firmando como um dos principais eventos do calendário mundial de jogos. O mesmo acontece com o BIG Festival. Eu pretendo que daqui a dez anos, todos os indicados a Melhor Jogo sejam brasileiros, mas para isso a gente precisa caminhar bastante.

Há uma grande tabu no mercado de desenvolvimento de games no Brasil, que é a expectativa para quando os brasileiros farão um game triple-A…

Acho que antes o Brasil tem que conquistar o público de outra maneira. Um triple-A é um blockbuster. É como você dizer: "ah, quando o Brasil vai fazer o próximo filme da Pixar?". Felizmente, o mercado de jogos é extremamente competitivo e cheio de nichos. Existe uma mudança hoje no modelo de negócios de games, e talvez alguns jogos menores são mais distribuídos e populares que os triple-A.

O game vencedor do BIG Festival esse ano, This War of Mine, vem da Polônia, que hoje se tornou um pólo produtor de grandes jogos como Dying Light e The Witcher. Vale a pena se espelhar no exemplo deles?

Acho correto a gente querer fazer um triple-A. Mas antes disso, existem outras coisas para se conquistar, que são igualmente lucrativas. A Polônia e a Finlândia são dois exemplos disso -- o país escandinavo é responsável por Angry Birds e por Limbo, um dos grandes games indies dos últimos anos. Eles se posicionaram como produtores de jogos casuais… Se você parar para pensar, não há nada mais hardcore que um jogo casual -- e nada mais casual que um jogo hardcore. Afinal, o que é mais hardcore? Um game que você joga no sofá e só de vez em quando tem tempo para ele, ou um jogo que te acompanha o dia inteiro, no ônibus, no banheiro e na fila do dentista?

Os games brasileiros tiveram um primeiro semestre muito fértil: vimos a chegada de dois jogos para o PlayStation 4, estamos próximos do lançamento de Aritana e a Pena da Harpia para o Xbox One e tivemos um sucesso de mercado indie com o Chroma Squad. Esse período é fortuito, faz parte de coincidências ou é apenas o começo de um futuro brilhante para o Brasil?

Não vou dizer que o próximo semestre vai ser igual, porque foi uma coincidência ter vários games bacanas saindo ao mesmo tempo, mas não é um ponto isolado. O Brasil nunca esteve tão bem colocado no mercado de games, porque está sabendo encontrar seus nichos. O que é uma pena é que esses nichos não estão no Brasil: todos esses games são lucrativos fora do país. E não acho que seja complexo de vira-lata: é como se o brasileiro só pudesse ser reconhecido aqui depois que fez sucesso lá fora. Não tem que ser assim: produção de jogos é produção cultural, que cria identidade e gera empregos. Acho que é uma questão parecida com o audiovisual: depois da lei da TV paga, o Brasil começou a se assistir -- e teve ótimo resultado de audiência. O Brasil tem que perder o medo da cota. Não estou defendendo uma cota para jogos, mas ter uma cota para TV foi importante. Não basta ter um mercado forte: é preciso fortalecer a cultura brasileira dentro dos games. Não é só fazer um game do saci-pererê, mas sim colocar a nossa realidade impressa em um jogo.

A pergunta de US$ 1 milhão: o que fazer para o brasileiro perder o preconceito com o game brasileiro?



A solução é dar acesso. Os jogos hoje são bons. Se você for no pavilhão brasileiro do BIG Festival, você vai ver um monte de gente jogando. Desculpa insistir na comparação com o cinema, mas hoje ninguém mais tem medo do audiovisual brasileiro, graças ao incentivo da Ancine e às leis de cotas. A gente perde a competição no acesso. Não dá para comparar o marketing de um game triple-A com o marketing e a exposição de um game brasileiro. A maioria das pessoas não sabe que a gente tem games brasileiros. Se elas souberem, a gente vira o jogo.

Fonte: Br/Ign

Comentários

04 Jul, 2015 - 14:35

Comentários

xandjam 05 Jul, 2015 05:34 1

Hardcore e casual pra mim não define um jogo, mas sim um jogador.

E na minha opinião, esses termos "CASUAL" e "HARDCORE" foram termos mais suaves e menos agressivos que a industria inventou pra definir: Aqueles que jogam saudavelmente e tambem fazem outras coisas alem de jogar... e aquele que são viciados, e vivem pra jogar heheheh

SrCoringa 05 Jul, 2015 05:25 -4

um jogo casual pode ser jogado de forma hardcore, até mais fortemente que um hardcore, ele não esta falando no sentido de dificuldade da coisa, e sim no investimento/tempo.

o HS por exemplo, é um jogo casual, que no conceito dele é e pode ser um jogo hardcore por que voce vai investir muito tempo nele no grind, na ladder, na arena, voce vai buscar melhorar e evoluir no jogo.

" Se você parar para pensar, não há nada mais hardcore que um jogo casual -- e nada mais casual que um jogo hardcore. Afinal, o que é mais hardcore? Um game que você joga no sofá e só de vez em quando tem tempo para ele, ou um jogo que te acompanha o dia inteiro, no ônibus, no banheiro e na fila do dentista?"

Rainha Dilma 04 Jul, 2015 22:10 3

Casual e Hardcore na mesma frase é absurdamente cômico, jogo casual hardcore, ta querendo ser contratado pelo Zorra total, huehuehuehue

SrCoringa 04 Jul, 2015 17:54 2

otima entrevista. Joinha!